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Brasil é a ‘nova Índia’ na prestação de serviços de tecnologia para o exterior
Empresas globais de 'off shoring' de TI estão expandindo para o Brasil com a compra de empresas locais
Há cerca de duas semanas, a gigante japonesa NTT Data adquiriu a empresa brasileira de serviços de tecnologia Aoop — em mais uma operação que está transformando o Brasil em pólo para a contratação tercerizada de engenheiros e desenvolvedores por empresas de outros países, movimento conhecido como off shoring de TI. Desde 2020, foram realizadas mais de 20 aquisições de empresas brasileiras dessa área, movimentando quase R$ 9 bilhões.
— O Brasil está se transformando na nova Índia para serviços de tecnologia off shoring — diz Daniel Milanez, CEO e co-fundador da IGC Partners, butique de fusões e aquisições que só trabalha para o “lado vendedor”. Nos últimos quatro anos, a IGC intermediou 75% das operações no setor de serviços de tecnologia, incluindo a venda da Aoop. Foram 17 transações que movimentaram R$ 4,48 bilhões.
Até o começo do ano que vem, a IGC deve concluir pelo menos mais duas transações nessa área, com um fundo e com uma empresa estrangeira estratégica que ainda não está no Brasil. — Já temos quatro conversas com memorando de entendimentos assinado, preço e estrutura definida em fase de diligência. E outras dez conversas em andamento — diz Rafael Frugis, sócio da IGC e responsável pelos negócios na área de serviços de tecnologia.
Fora do radar de investidores até uns oito anos atrás, as empresas prestadoras de serviço de tecnologia são intensivas em mão de obra de engenheiros e cientistas da computação, que desenvolvem sistemas de tecnologia sob demanda. — Na pandemia, muitos prestadores de serviço indianos tiveram problemas de entrega e o Brasil passou a ser visto como uma opção para grandes empresas. Além da qualidade da mão de obra, o Brasil se torna atraente por ter mais afinidade cultural com empresas americanas e europeias e uma menor diferença de fuso horário. O offshoring virou near shoring ou friendly shoring com o Brasil — diz Frugis.
As empresas de serviço de tecnologia sempre foram geradoras de caixa, mas no passado não eram muito valorizadas por investidores. Empresas grandes como Tivit, CI&T e Stefanini trilharam caminhos de crescimento orgânico de início, enquanto as menores estavam totalmente fora do radar. Isso até surgirem os bancos digitais, demandando uma transformação nos bancões por aplicativos mais amigáveis e modernos. O Itaú chegou a abrir mil vagas de profissionais de tecnologia, mas não conseguiu atrair talentos, mais acostumados a um ambiente de trabalho informal. O jeito foi fazer um aqui hire: adquirir uma empresa pelo time. Em 2019, comprou a Zup, na época com 900 funcionários e avaliada em R$ 575 milhões (ou R$ 600 mil por desenvolvedor), mantendo o negócio separado. Hoje são 4 mil funcionários, atuando exclusivamente em projetos para o banco.
De lá para cá, o mercado aqueceu. Grandes empresas como Boticário, Ambev, Alpargatas fizeram seus “acqui-hires”, pagando múltiplos superiores a R$ 1 milhão. Agora o mercado vive uma nova onda, com o Brasil se transformando em um destino estretégico para empresas globais de off shoring de TI.
— Esse movimento de acqui-hire deu uma baixada e hoje o que a gente tem visto são empresas globais que prestam serviço com desenvolvedores espalhados pelo mundo, sobretudo na Índia, comprando empresas no Brasil para ter uma base aqui — diz Frugis.
Além da Índia, que ficou fragilizada na pandemia, a guerra da Ucrânia também abriu espaço para o Brasil, em detrimento de desenvolvedores russos.
Dentre as empresas globais que estão entrando ou ampliando presença no Brasil estão a indiana Marlabs, com a compra da Monitora, e a Telefônica, que adquiriu a Vita IT. A multinacional argentina Globant comprou a Iteris. E, agora, a japonesa NTT Data ampliou a presença no mercado brasileiro com a compra da Aoop.
Em um caminho mais independente, a startup catarinense Indicium se internacionalizou após um aporte de US$ 40 milhões do fundo de venture capital norte-americano Columbia Capital, no início do ano. A empresa agora tem a sede em Nova York, mirando o mercado americano, mas com o time exportando serviço a partir do Brasil.
O Brasil também tem um grande player global na área: a CI&T, que foi investida da gestora de private equity Advent, tinha 90% dos clientes no Brasil quando fez seu IPO na Nasdaq em 2021. Um ano depois, 50% da receita já vinha de fora.
A área de serviços de tecnologia é uma entre oito grandes áreas em que a IGC se especializou, sempre atuando para a empresa que quer ser vendida ou atrair investidor. A IGC deve intermediar mais de 20 operações de fusão e aquisição este ano, sendo mais de 70% vendendo empresas de médio porte brasileiras para investidores estrangeiros, divididos entre fundos de private equity e estratégicos.